Um intenso cavado com inclinação negativa evidente no campo de vorticidade potencial na alta troposfera (abaixo) está causando uma intensa ciclogênese sobre o RS. O acoplamento dos jatos também favorecerá a intensificação do ciclone, que estará localizado na saída polar do jato que se estende do Pacifico até o PR/SC, circulando o cavado, e a entrada equatorial do outro jato mais a sul sobre o Atlântico. O jato sobre o Atlântico se intensifica conforme a liberação de calor latente em médios e altos níveis devido a convecção e precipitação ao longo da frente quente causa divergência em altos níveis (setas pretas). O vento divergente causa um aumento do gradiente de vorticidade potencial, que acelera o jato.
Outro fator que favorece este intenso ciclone é a presença de umidade. Nos últimos 3 dias houve escoamento de norte/noroeste em baixos níveis sobre o Paraguai, Bolívia, MS e MT, o que transportou ar quente e úmido para o RS. Por exemplo, a água precipitável hoje 12Z sobre o centro do RS era 2-3 desvios padrão acima da média, excedendo 40 mm em alguns pontos. O intenso escoamento de noroeste transportando ar quente e úmido para o RS é reforçada conforme o ciclone se intensifica e acelera os ventos em baixos níveis.
A alta umidade também tem favorecido chuva intensa e tempestades severas no norte do RS, SC e sul do PR. Na última madrugada, por exemplo, houve granizo grande (6-10 cm) em áreas do centro-norte do RS. https://twitter.com/krisna_puntel/status/1679036082090909697
A ocorrência de granizo foi devido a frente quente que avança para sul na saída do jato de baixos níveis, precedendo a ciclogênese. Advecção quente ocorria ao longo e a norte da frente quente que estava no centro do RS. Com isso, tempestades elevadas capazes de causar granizo grande se formaram na região. Essa situação de granizo grande associado a tempestades elevadas perto de uma frente quente é relativamente comum no Sul do Brasil durante o inverno.
Hoje, há potencial de tempo severo principalmente no norte do RS (https://twitter.com/prevots_svr/status/1679119592977833985). Um ciclone intenso como esse remete ao evento de tempo severo de 30 de junho de 2020, que precedeu a ciclogênese explosiva no dia seguinte na costa do RS e SC. O CAPE naquela ocasião era bastante baixo, assim como hoje. Além disso, há indícios de que uma linha de instabilidade se organiza no oeste do RS neste momento. Portanto, apesar de um pouco menos de instabilidade no ambiente hoje, há potencial de rajadas de vento severas associadas a esta linha. Além disso, outras tempestades podem se formar no norte do RS e SC à tarde.
A pressão na superfície no centro do ciclone vai cair rapidamente a partir da madrugada de amanhã (13) conforme o ciclone se move para leste. O ciclone estará com pressão abaixo de 1000 hPa sobre o RS durante o dia de hoje, o que já é bastante baixa (< 3 desvios padrão abaixo da média; abaixo).
Depois, a pressão cai para 990-994 hPa conforme o ciclone se intensifica sobre o Atlântico (abaixo), chegando a 4 desvios padrão abaixo do normal. Interessante notar que o ciclone tem vários núcleos pequenos com mínimos de pressão que provavelmente se formam devido a convecção/precipitação intensa e localizada e liberação de calor latente associada.
Estes mínimos de pressão favorecerão vento intenso em algumas áreas. O GFS, por exemplo, indica ventos em 850 hPa 5-6 desvios padrão acima do normal, com magnitude de 100-120 km/h. Esse intenso escoamento em baixos níveis deve favorecer rajadas de mais de 100 km/h no litoral do RS. Ao longo da costa do Sul e Sudeste, o avanço da frente fria no dia 13 deve ser responsável por rajadas de vento intensas.