Arquivo da categoria: Chuva intensa
[19-26/09/2024] Chuva intensa e onda de tempo severo no sul do Brasil
[16-23/06/2024] Chuva intensa no RS e SC, tempo severo, e temperaturas baixas na Patagônia
[10-15/06/2024] Rio atmosférico no Chile, Zonda em Mendoza, calor no Brasil, chuvas no NEB
Uma análise dos recordes de maio/2024
[10-13/05/2024] Análise da chuva intensa e tornados no RS
[28/04-02/05/2024] Uma análise da chuva histórica no RS
[14/01/2024] Chuva intensa no RJ
Chuva intensa ocorreu na região metropolitana do RJ nesta madrugada. O mapa do Cemaden abaixo mostra mais de 200 mm em 24h em alguns pontos de Nova Iguaçu, e mais de 100 mm no Rio e Niterói.
Uma das estações em Nova Iguaçu indicou mais de 40 mm/h por 3 h consecutivas. O pico da precipitação ocorreu em torno de 0200 UTC.
O radar do Pico do Couto às 0200 UTC indicava uma estreita faixa com refletividade acima de 40 dBZ e orientação sudeste-noroeste. Esta banda de precipitação intensa se concentrou sobre a região metropolitana do RJ por mais de 3 horas. A animação também indica rotação em mesoescala nessa região: os núcleos convectivos ao longo da banda de refletividade mais intensa se moviam para noroeste enquanto que a precipitação mais fraca a nordeste se movia para sudeste, conforme indicado na figura.
O GFS indicava alguns máximos de vorticidade em 500 hPa sobre o Estado do RJ na analise do dia 14 às 0000 UTC. Contudo, a localizacao desses vortices em 500 hPa (e em 700 hPa) nao parece correta quando comparada ao movimento da precipitacao no radar. Esse tipo de vortice de mesoescala que ocorre devido a conveccao intensa no verao é geralmente mal previsto por modelos globais.
Havia intensa água precipitável sobre o litoral do RJ no momento da chuva intensa. A análise do GFS indica mais de 64 mm, o que é bastante alto mesmo para o RJ no verão. Notem também o vento de sul em 700 hPa, que também estava presente em 850 hPa (mais abaixo). O vento sul se deve ao avanço de ar mais frio e seco pela costa do Sul e Sudeste após a passagem da frente oceânica. Esse vento de sul favorece o levantamento orográfico. Portanto, havia uma condição favorável à chuva intensa bastante conhecida na região. A rotação em mesoescala possivelmente ajudou a realçar a precipitação intensa através da formação da banda de precipitação.
A sondagem do aeroporto do Galeão às 0000 UTC do dia 14 indicava impressionantes 69 mm de água precipitável.
A performance dos modelos foi bastante ruim. O GFS indicava chuva mais intensa mais a norte, sobre o norte do RJ e sul de MG, onde o modelo indicava alguns vórtices de mesoescala.
O modelo canadense indicava chuva intensa na região serrana do RJ.
[11-13/09/2023] Chuva intensa e tempo severo no RS
Houve chuva intensa no RS novamente, com acumulados de 100-200 mm. Vários pontos do Estado registraram aumento dos rios e inundações de áreas próximas. Além disso, tempestades severas causaram granizo em várias localidades.
Tempestades severas 0000 UTC do dia 13.
Um cavado em 500 hPa está causando uma ciclogênese sobre o norte do RS. O centro de baixa pressão no Paraguai, formado em resposta ao intenso escoamento em médios níveis sobre os Andes, se move para sudeste conforme a forçante associada ao cavado se aproxima. Esse ciclone vai seguir em direção ao litoral norte do RS e litoral de SC.
O ciclone não é muito intenso em termos de pressão central (1006-1010 hPa), mas o gradiente de pressão tem sido suficiente para causar ventos de 30-40 kt em 850 hPa. Com isso, advecção quente ocorre ao longo da frente estacionária que em superfície está próxima do centro do RS nesta manhã. A advecção quente tem favorecido intensa precipitação e tempestades severas elevadas sobre o ar relativamente frio em superfície.
Este evento tem similaridades em escala sinótica com a configuração que favoreceu a chuva intensa no Vale do Taquari nos dias 03-04. Em ambos casos, havia um intenso cavado migratório que interagiu com uma frente sobre o RS, favorecendo advecção quente ao longo da frente. Contudo, o transporte de umidade no evento em andamento é significativamente menos intenso (abaixo comparação dos dois eventos).
As anomalias de água precipitável no evento do dia 04 eram muito mais altas. Havia uma ampla área com anomalias positivas no dia 04.
Acredito que os dias que precederam os dois eventos foram bastante diferentes. Antes do evento do dia 04 e nos últimos dias de agosto, um cavado anômalo na costa do Sudeste (abaixo) fez com que houvesse persistente transporte de umidade da Amazônia para o centro e leste do Brasil.
No dia 30, por exemplo, havia uma ampla área com anomalia positiva de água precipitável no Sudeste e Centro-Oeste.
Conforme o intenso cavado em médios níveis se aproximou do Sul do Brasil, essa umidade foi rapidamente transportada para sul devido ao intenso e profundo jato em baixos níveis. Com isso, as anomalias de água precipitável no RS eram de 3+ desvios padrão acima da média.
O mesmo não ocorreu no último evento. O cavado, apesar de ser intenso, não foi capaz de transportar grandes quantidades de umidade para o RS, principalmente porque não havia uma massa de ar úmida nos subtrópicos.
[06-07/09/2023] Outro evento de chuva intensa no RS e Uruguai
Chuva intensa ocorreu entre o norte do Uruguai e sul do RS entre os dias 06 e 07/09, levando a enchentes em algumas cidades. Várias cidades na região registraram 100-200 mm no período.
Mais uma vez, um intenso cavado em médios níveis favoreceu intenso levantamento na região. Contudo, há várias diferenças em relação ao evento dos dias 03-04. A discussão se baseia nas análises do GFS de 06Z do da 07.
O máximo de vorticidade em 500 hPa associado ao cavado está mais a sul neste caso, favorecendo uma ciclogênese sobre a costa da Argentina. O cavado não é tão compacto quanto o último e há uma crista mais intensa corrente abaixo a leste da Argentina. Essa crista em médios níveis mantém um intenso anticiclone em superfície.
Além disso, o jato de altos níveis não está em uma posição tão favorável. Há um jato no Atlântico com orientação sudoeste-nordeste, mas um tanto longe da região onde ocorria movimento ascendente intenso (contornos vermelhos). Portanto, o levantamento neste caso esteve mais associado a forçantes em baixos níveis.
Em 850 hPa, há uma frente quente que se estende do norte da Argentina até o centro do Uruguai e costa teste do RS, evidente no gradiente de temperatura potencial equivalente. A mudança na direção do vento de norte/noroeste no setor quente para sudeste a sul da frente indica acentuada convergência em baixos níveis. Além disso, a advecção quente é bastante intensa ao longo da frente. Essa é uma clássica frente quente associada a chuva intensa, relativamente comum na primavera.
O intenso movimento ascendente, resultado principalmente da intensa advecção quente em baixos níveis, coincide com uma área com instabilidade elevada (MUCAPE > 250 J/kg), favorecendo tempestades convectivas. Em áreas do sul do RS, há relatos de que houve intensa atividade elétrica acompanhando a chuva intensa por mais de 12h durante a madrugada do dia 07.
A anomalia de água precipitável indica mais de 2 desvios padrão na região durante a chuva intensa. Essa anomalia se deve ao rápido transporte de umidade pelo vento em baixos níveis. Em 700 hPa, o vento excedeu 50 kt, indicando um profundo jato capaz de transportar grande quantidade de umidade.
Um fator que provavelmente contribuiu para que a frente quente não se movesse tanto para sul, apesar do intenso escoamento de norte/noroeste, foi um intenso anticiclone que estava presente no Atlântico. Com mais de 1036 hPa no centro, esse anticiclone manteve intenso escoamento de nordeste ao longo da costa do RS e Uruguai, no setor frio. O anticiclone anômalo favoreceu intenso movimento ascendente ao longo da frente quente. O gradiente de temperatura acentuado ao longo da frente quente (pela presença de ar frio no oceano) e o vento em baixos níveis intenso (pelo forte gradiente de pressão) foram importantes neste caso.
Mais uma vez, várias oportunidades de pesquisa podem ser exploradas neste caso:
– A influência de anticiclones no Atlântico nas frentes quentes e estacionárias associadas a chuva intensa no sul do Brasil;
– A relação entre a estrutura do jato de baixos níveis e a advecção quente ao longo das frentes;
– Quais padrões de circulação no Pacífico favorecem esses períodos de alta atividade convectiva no Sul do Brasil. Muitas vezes, quando a atmosfera está favorável a um evento extremo, é mais provável que outros eventos extremos ocorram em seguida porque a configuração em grande escala já é anormal.