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[03-04/11/2023] Ciclone no RS

Um intenso ciclone deve se formar na costa do sul do RS na sexta-feira. Segundo alguns modelos, a pressão no centro do ciclone pode chegar a ~980 hPa < 500 km da costa, o que deve favorecer intensas rajadas de vento no litoral do RS. 

O ciclone se forma devido a um intenso cavado em 500 hPa que avança de oeste e adquire inclinação negativa conforme se aproxima do RS (abaixo). Além disso, ampla advecção quente em baixos níveis favorecerá queda de pressão sobre o RS ao longo do período (mais abaixo), e posteriormente sobre o oceano conforme o ciclone se desloca para leste/sudeste.

O ciclone se formará ao longo do jato de altos níveis (abaixo), mas a liberação de calor latente ao longo do dia amanhã (3) fará com que o jato se divida em dois máximos (mais abaixo), um a noroeste e outro a sudeste do ciclone. Esse processo é relativamente comum em ciclogêneses extratropicais e faz com que o ciclone se posicione na entrada equatorial do jato a sudeste e na saída polar do jato a noroeste, favorecendo intensificação mesmo que o ciclone não tenha mais acesso a ar quente.

A pressão minima prevista pelo GFS é de ~980 hPa, o que seria a menor pressão nessa área nos últimos 40 anos (segundo o ERA5 1979-2019).

O ciclone também pode apresentar aprisionamento do ar quente no centro, o que ocorre em algumas situações em que o ciclone se intensifica rapidamente.

Antes do ciclone, tempestades severas podem ocorrer em uma ampla área Sul do Brasil. Além disso, precipitação intensa deve ocorrer em áreas do centro-norte do RS e SC. O GFS e o ECMWF indicam mais de 150 mm em dois dias, o que pode facilmente levar a novas inundações dado o solo saturado na região.

Conforme o ciclone se intensifica, devem ocorrer rajadas de vento intensas na costa do RS. O GFS indica ventos acima de 60 kt em 925 hPa na madrugada do dia 4.

[11-13/07/2023] Tempo severo e intenso ciclone no Sul do Brasil

Um intenso cavado com inclinação negativa evidente no campo de vorticidade potencial na alta troposfera (abaixo) está causando uma intensa ciclogênese sobre o RS. O acoplamento dos jatos também favorecerá a intensificação do ciclone, que estará localizado na saída polar do jato que se estende do Pacifico até o PR/SC, circulando o cavado, e a entrada equatorial do outro jato mais a sul sobre o Atlântico. O jato sobre o Atlântico se intensifica conforme a liberação de calor latente em médios e altos níveis devido a convecção e precipitação ao longo da frente quente causa divergência em altos níveis (setas pretas). O vento divergente causa um aumento do gradiente de vorticidade potencial, que acelera o jato.

Outro fator que favorece este intenso ciclone é a presença de umidade. Nos últimos 3 dias houve escoamento de norte/noroeste em baixos níveis sobre o Paraguai, Bolívia, MS e MT, o que transportou ar quente e úmido para o RS.  Por exemplo, a água precipitável hoje 12Z sobre o centro do RS era 2-3 desvios padrão acima da média, excedendo 40 mm em alguns pontos. O intenso escoamento de noroeste transportando ar quente e úmido para o RS é reforçada conforme o ciclone se intensifica e acelera os ventos em baixos níveis.

A alta umidade também tem favorecido chuva intensa e tempestades severas no norte do RS, SC e sul do PR. Na última madrugada, por exemplo, houve granizo grande (6-10 cm) em áreas do centro-norte do RS. https://twitter.com/krisna_puntel/status/1679036082090909697

A ocorrência de granizo foi devido a frente quente que avança para sul na saída do jato de baixos níveis, precedendo a ciclogênese. Advecção quente ocorria ao longo e a norte da frente quente que estava no centro do RS. Com isso, tempestades elevadas capazes de causar granizo grande se formaram na região. Essa situação de granizo grande associado a tempestades elevadas perto de uma frente quente é relativamente comum no Sul do Brasil durante o inverno. 

Hoje, há potencial de tempo severo principalmente no norte do RS (https://twitter.com/prevots_svr/status/1679119592977833985). Um ciclone intenso como esse remete ao evento de tempo severo de 30 de junho de 2020, que precedeu a ciclogênese explosiva no dia seguinte na costa do RS e SC. O CAPE naquela ocasião era bastante baixo, assim como hoje. Além disso, há indícios de que uma linha de instabilidade se organiza no oeste do RS neste momento. Portanto, apesar de um pouco menos de instabilidade no ambiente hoje, há potencial de rajadas de vento severas associadas a esta linha. Além disso, outras tempestades podem se formar no norte do RS e SC à tarde.

A pressão na superfície no centro do ciclone vai cair rapidamente a partir da madrugada de amanhã (13) conforme o ciclone se move para leste. O ciclone estará com pressão abaixo de 1000 hPa sobre o RS durante o dia de hoje, o que já é bastante baixa (< 3 desvios padrão abaixo da média; abaixo). 

Depois, a pressão cai para 990-994 hPa conforme o ciclone se intensifica sobre o Atlântico (abaixo), chegando a 4 desvios padrão abaixo do normal. Interessante notar que o ciclone tem vários núcleos pequenos com mínimos de pressão que provavelmente se formam devido a convecção/precipitação intensa e localizada e liberação de calor latente associada. 

Estes mínimos de pressão favorecerão vento intenso em algumas áreas. O GFS, por exemplo, indica ventos em 850 hPa 5-6 desvios padrão acima do normal, com magnitude de 100-120 km/h. Esse intenso escoamento em baixos níveis deve favorecer rajadas de mais de 100 km/h no litoral do RS. Ao longo da costa do Sul e Sudeste, o avanço da frente fria no dia 13 deve ser responsável por rajadas de vento intensas.